SEMINÁRIO 3

 

 

NEUROFISIOLOGIA DAS EMOÇÕES

Componentes:

Sub-turma: A1

Introdução

O prazer, a alegria, a tristeza, o medo, a raiva, a calma, a hostilidade, a depressão, entre outras emoções contribuem para a riqueza de nossa vida pessoal e conferem paixão e caráter às nossas ações. Não há, até o momento, definição científica precisa para o termo emoção. Coloquialmente, refere-se a sentimentos e o modo como eles são expressados tanto em nosso comportamento quanto nas respostas de nosso corpo. A percepção e a ação decorrentes de um estado emocional são guiadas pôr circuitos neuronais distintos dentro do cérebro.

Há, provavelmente, no córtex cerebral um local responsável pela representação consciente das emoções. Ao mesmo tempo, as emoções são acompanhadas de respostas autonômicas, endócrinas e motoras esqueléticas que necessitam do comando de porções sub-corticais do sistema nervoso como a amígdala, o hipotálamo e o tronco cerebral. Essas respostas periféricas são importantes, pois preparam o corpo para a ação e comunica os estados emocionais a outras pessoas.

Teorias da Emoção: uma explicação para a relação entre os Estados Cognitivos e Fisiológicos

Na virada do século, William James e Karl Lange propuseram: "Ficamos tristes porque choramos, zangados porque agredimos, e com medo porque trememos, e não choramos, agredimos ou trememos porque estamos tristes, agressivos ou com medo, conforme o caso." Desse modo, eles acreditavam que a experiência consciente da emoção ocorre após o córtex cerebral receber informações das alterações do estado fisiológico. Assim, as emoções são respostas cognitivas a informações recebidas da periferia. Nossa experiência confirma que as informações a partir do corpo contribuem para a resposta emocional. Pacientes que sofrerão lesões na medula espinhal tiveram uma diminuição expressiva da intensidade das emoções, e quanto maior a perda da sensibilidade maior era o decréscimo nas experiências emocionais.

Entretanto, sabe-se que podemos continuar emocionalmente ligados mesmo após o término das repostas fisiológicas. Se o feedback fisiológico fosse o único fator de controle, as emoções deveriam persistir apenas durante o período que ocorre as alterações fisiológicas. Isso sugere que há outros fatores relacionados com a emoção, e não apenas informações provenientes da periferia.

Walter Cannon e Philip Bard formularam uma teoria que preconiza a importância de estruturas sub-coticais na mediação das emoções. Eles observaram respostas emocionais integradas em gatos nos quais o córtex havia sido removido, mas não ocorria respostas quando o hipotálamo era removido. A teoria de Cannon-Bard sugere que o hipotálamo e o tálamo forneçam os comandos motores coordenados que regulam os sinais periféricos e forneçam ao córtex as informações necessárias para a percepção cognitiva das emoções.

Hoje, acredita-se que o comportamento emocional seja a interação entre o córtex e a periferia. Antônio Damasio observou pacientes com lesão da amígdala ou do córtex pré-frontal. Em 1960, Stanley Schachter reformulou a teoria de James-Lange e propôs que o córtex crie uma resposta cognitiva à informação periférica que é compatível com as expectativas do indivíduo e seu contexto social.

Na teoria de James-Lange-Schachter-Damasio, a experiência da emoção é essencialmente uma história que o cérebro inventa para explicar as reações corporais. Essa teoria, chamada pôr Damasio de hipótese do marcador somático, é atraente porque explica o fato de as mesmas respostas autonômicas poderem acompanhar diferentes emoções.

 

O Conceito de Sistema Límbico

 

Paul Broca, em l878 observou um grupo de áreas corticais que são diferentes das células do isocórtex que o circundam. Utilizou o termo lobo límbico(contorno), porque ele contorna áreas límbicas sub-corticais, formando um anel. Atualmente, utiliza-se o termo Sistema Límbico para designar o circuito neuronal que controla o comportamento emocional e os impulsos motivacionais.

 

 

 

 

 

 

O Circuito de Papez

Na década de 30, refletindo sobre os trabalhos de Cannon e Bard, Papez propôs que os diversos componentes do Sistema Límbico mantinham numerosas e complexas conexões entre si. Assim, o neocórtex influencia o hipotálamo através de conexões do giro do cíngulo para a formação hipocâmpica. Esta processa as informações recebidas e as projeta para os corpos mamilares do hipotálamo através do fórnix. O hipotálamo informa ao giro do cíngulo através de uma via dos corpos mamilares para os núcleos talâmicos anteriores(trato mamilo talâmico) e dos núcleos talâmicos anteriores para o giro cingulado. Ele acreditava, como hoje já se sabe, que o córtex está seriamente envolvido nas emoções. Lesões ou tumores de áreas corticais límbicas podem gerar distúrbios emocionais. No circuito de Papez, o hipotálamo governa a expressão das emoções.



O Papel do Hipotálamo

O hipotálamo constitui menos de 1% do volume total do cérebro humano, contém muitos dos circuitos neuronais que regulam as funções vitais que variam com os estados emocionais como a temperatura, batimentos cardíacos, pressão sangüinea, ingestão de água e comida. Controla o sistema endócrino através da hipófise. Desse modo, é um dos grandes responsáveis pela homeostasia.

A influência do hipotálamo sobre o Sistema Nervoso Autonômico-SNA: O SNA é primariamente um sistema efetor(controle do músculo cardíaco, liso e glândulas endócrinas), e possui duas divisões principais: simpática e parassimpática. Cannon propôs que essas divisões tivessem funções diferentes na regulação do comportamento emocional e da homeostasia. A primeira governa a reação fight-or-flight(luta ou fuga), enquanto a segunda, é responsável pelo rest and digtest(repouso e digestão). Um animal cujo SNA seja eliminado pode sobreviver enquanto estiver abrigado, aquecido, e não exposto ao estresse, caso contrário, ele morre.

A saída do SNA sofre influencia de diversas regiões do cérebro, em particular do córtex, da amígdala e da formação reticular. Essas estruturas exercem suas ações sobre o SNA através do hipotálamo que integra as informações em uma resposta coerente.

O hipotálamo modula os reflexos viscerais, que são organizados no tronco cerebral. Isso é realizado de duas formas:

(primeiro, projeta-se para três importantes regiões no tronco cerebral e na medula espinhal( 1)o hipotálamo projeta-se para o núcleo do trato slitário, o principal recipiente dos influxos sensoriais a partir das vísceras.(2)o hipotálamo projeta-se para regiões do tronco cerebral no bulbo ventral rostral, que controla a saída pré-glangionar importante para a função simpática.(3) o hipotálamo projeta-se diretamente para o fluxo de saída autonômica da medula espinhal.

(o hipotálamo atua sobre o sistema endócrino liberando hormônios que influenciam a função autonômica.

A influência do hipotálamo sobre o Sistema Endócrino: o controle do sistema endócrino pode ser feito direta ou indiretamente pelo hipotálamo. Diretamente pela secreção de produtos neuroendócrinos para dentro da circulação geral a partir da porção posterior da glândula hipófise. Indiretamente pela secreção dos hormônios reguladores- de liberação ou de inibição- dentro do plexo portal local, que drena para dentro dos vasos sangüíneos da hipófise anterior. A neurossecreção é liberada de certo tipo de neurônios que convertem informações elétricas neurais em informações hormonais. Esses neurônios armazenam e só liberam os hormônios quando são estimulados.

A busca da representação cortical das emoções

Estímulos emocionais (vias sensoriais (hipotálamo (tronco cerebral (

órgãos periféricos(alteração da homeostasia) ( córtex cerebral(percepção consciente) (

onde?

Um grande avanço na busca da representação cortical das emoções ocorreu em 1939 com Heinrich Klüver e Paul Bucy que fizeram lobotomia temporal bilateral(incluindo a amígdala e o hipocampo) em macacos Rhesus e observaram uma síndrome comportamental dramática. Os macacos, antes selvagens, tornaram-se mansos; mostraram um achatamento das emoções; apresentaram cegueira psíquica(não reconheciam objetos familiares); tendência oral(levavam todos os objetos à boca); grandes mudanças de hábito e aumento do comportamento sexual. Nesse momento surge uma questão: quais as estruturas do sistema límbico envolvidas na sintomatologia da síndrome de Klüver-Bucy ? Influenciados pelas idéias de Papez achou-se que era devido a todo o sistema límbico. Hoje sabe-se que a cegueira psíquica são devidos à lesão das áreas de associação do córtex temporal. O hipocampo, os corpos mamilares e os núcleos anteriores do tálamo estão associados ao armazenamento da memória cognitiva. A estrutura central dos componentes emocionais é a amígdala.

 

 

A Amígdala: porção do sistema límbico mais especificamente implicada na emoção

A amígdala está situada no lobo temporal em posição medial. É um complexo núcleo dividido em três ⨪⨪⨪⨪⨪⨪⨪⨪⨪⨪⨪⨪⨪⨪⨪⨪⨪⨪⨪⨪⨪⨪⨪⨪⨪⨪⨪⨪⨪⨪⨪⨪⨪⨪⨪⨪⨪⨪⨪⨪⨪⨪⨪⨪⨪⨪⨪⨪⨪⨪⨪⨪⨪⨪⨪⨪⨪⨪⨪⨪⨪⨪⨪⨪⨪⨪⨪⨪⨪⨪⨪⨪⨪⨪⨪⨪⨪⨪⨪⨪⨪⨪⨪⨪⨪⨪⨪⨪⨪⨪⨪⨪⨪⨪⨪⨪⨪⨪⨪⨪⨪⨪⨪⨪⨪⨪⨪⨪⨪⨪⨪⨪⨪⨪⨪⨪⨪⨪⨪⨪⨪⨪⨪⨪⨪⨪⨪⨪⨪⨪⨪⨪⨪⨪⨪⨪⨪⨪⨪⨪⨪⨪⨪⨪⨪⨪⨪⨪⨪⨪⨪⨪⨪⨪⨪⨪⨪⨪⨪⨪⨪⨪⨪⨪⨪⨪⨪⨪⨪⨪⨪⨪⨪⨪⨪⨪⨪⨪⨪⨪⨪⨪⨪⨪⨪⨪⨪⨪⨪⨪⨪⨪⨪⨪⨪⨪⨪⨪⨪⨪⨪⨪⨪⨪⨪⨪⨪⨪⨪⨪⨪⨪⨪⨪⨪⨪⨪⨪⨪⨪⨪⨪⨪⨪⨪⨪⨪⨪⨪⨪⨪⨪⨪⨪⨪⨪⨪⨪⨪⨪⨪⨪⨪⨪⨪⨪⨪⨪⨪⨪⨪⨪⨪⨪⨪⨪ via amigdalofuga ventral que fornece entradas para o tronco cerebral, o núcleo medial dorsal e o giro cingulado. As informações que alimenta todo o sistema sensorial estão na amígdala, principalmente no núcleo basolateral e interconexões dentro da amígdala permite a integração de informações de diferentes sistemas sensoriais.

 

O Complexo Basolateral: é o principal alvo de entrada das vias sensoriais na amígdala. São duas as fontes dessas vias: (1)os núcleos sensorias do tálamo e (2) as áreas sensoriais primárias do córtex. Para muitos tipos de emoção, particularmente o medo, a projeção do tálamo para amígdala é especialmente importante, e as informações mediadas pôr esta projeção atingem a amígdala mais rapidamente que a entrada sensorial a partir do córtex. Desse modo, a entrada talâmica prepara a amígdala para receber informações mais sofisticada acerca da representação cognitiva da emoção a partir de centros superiores, como o córtex pré-frontal ventromedial. A saída da amígdala, bem como a entrada aferente que é desencadeada pela atividade de efetores autonômicos, é retransmitida de volta à estruturas corticais para dar origem a uma experiência emocional consciente. Como resultado, a projeção do tálamo para a amígdala pode permitir à representação sensorial primitiva ativar rapidamente a amígdala, uma ativação que é importante em situações de perigo.

O influxo sensorial relacionado com o medo e a ansiedade vem através do complexo basolateral. Há muito pouco casos de humanos com lesões da amígdala, mas Ralph Adolphs da Universidade de IOWA recentemente estudaram uma mulher,SM, de 30 anos que tinha destruição bilateral da amígdala decorrente de uma doença denominada Urbach-Wiethe. SM tinha inteligência normal e era capaz de reconhecer pessoas em fotografias. Ela era capaz de reconhecer estados emocionais como felicidade, tristeza, revolta, contudo, ela não conseguia caracterizar o medo(reações emocionais negativas) e a raiva. A amígdala não é importante apenas para o medo aprendido, também é critica para o medo inato-não condicionado.

Se a destruição da amígdala reduz a expressão de medo, o que ocorre se estimularmos eletricamente uma amígdala intacta? Dependendo do local a estimulação da amígdala leva a um aumento do estado de vigília e atenção. A estimulação da parte lateral cria uma combinação de medo e agressão violenta

O núcleo central: A partir da zona de entrada da amígdala no complexo basolateral, as informações fluem para o núcleo central ,principal saída da amígdala. Ele projeta-se para as regiões laterais hipotalâmicas e do tronco cerebral que regulam as respostas autonômicas aos estímulos emocionais. Além disso, o núcleo central projeta-se direta ou indiretamente para o núcleo paraventricular do hipotálamo, importante mediador de respostas neuroendócrinas aos estímulos que causam medo e estresse. Projetando-se para áreas corticais de associação, especialmente o córtex orbitofrontal e o giro do cíngulo, desempenha importante papel na percepção consciente da emoção. Ele participa do controle do estado de vigília .

Lesões do córtex orbitofrontal ou do córtex cingulado anterior resultam em alteração da reatividade emocional. Em 1935, foi realizada a primeira lobotomia pré-frontal em humanos. Foi seccionada as conexões límbicas, isolando o córtex orbitofrontal na tentativa de tratar alterações emocionais graves decorrentes de doença mental .A principio, houve redução da ansiedade desses pacientes, mas complicações como o desenvolvimento de epilepsia e alterações anormais da personalidade, como a falta de inibição ou de iniciativa ou de motivação.

Bibliografia